Seu nome era Rodolfo.

Ele era uma pessoa comum, exceto pelo simples fato da cor de sua pele ser verde. Em função disso, sua vida foi baseada em maus tratos, desrespeito e preconceito. Mas sua vida começou a mudar aos 70 anos.

Era Julho, dia 15. Chovia. Rodolfo olhava para a rua solene. As gotas da chuva caíam sobre o asfalto encharcado. De repente, um Chevete 84 passa pela rua. O odor de fumaça alcançou o nariz de Rodolfo.

Ah, merda.

Ele descobrira o sentido da vida. Sim, Rodolfo. O homem cuja cor da pele era Verde, cujo nome ninguém sabia. Rodolfo descobriu o sentido da vida sem ao menos ter conversado com uma pessoa que não era da família. Talvez por isso, acreditava, que ele descobriu o sentido desse miserável fardo que chamamos de vida. Para ele, aquilo era tão óbvio que provavelmente a mente humana estava extremamente alienada. Não ter notado isso em toda a existência humana! Ou Rodolfo era um gênio, ou ele estava muito isolado do mundo. Mas agora que sabia o seu significado, não havia mais motivo de continuar vivendo, pensou. Mas logo se deu conta que se realmente aquele era o sentido da vida, ele iria se matar sem ter ao menos executado sua razão existencial! Aos 70 anos tinha notado que passou sua vida sem ter feito absolutamente nada e só agora, quase impossibilitado de caminhar sem se incomodar com a lombar, Rodolfo iria começar realmente sua vida.

Abriu a porta de sua casa e saiu rua afora. Aquela sensação que as gotas geladas da chuva estimulavam em Rodolfo era como um orgasmo que nunca sentira.
Após caminhar quase um quilômetro sem se importar com a chuva, o idoso chegou à beira de uma lagoa. Seu semblante esverdeado demonstrava uma tristeza acumulada por décadas. Aquele dia era o mais feliz em toda sua vida, ele se sentia a pessoa mais importante de toda a história da humanidade, mas não conseguia sorrir. Fitou por alguns segundos o céu encoberto e fechou os olhos. O som da chuva caindo sobre a água da lagoa era tranquilizador. O velho sentou-se sobre a relva que beirava a lagoa.

Pois é.

Ele era a única pessoa em todo o planeta que possuía a verdade. Era agora seu dever informar as outras pessoas. Mas quem confiaria nele? Quem iria dar ouvidos a um idoso verde? Por alguns instantes, Rodolfo hesitou. Achou que não deveria fazer, mas lembrou o quão grandioso era a verdade. Levantou-se e foi em busca de alguém.
Como chovia, todos da cidade onde Rodolfo morava estavam dentro de suas casas ou em seus trabalhos. Perto de um mercado estava um homem alto e magro, possuía um bigode volumoso. Estava parado olhando para o chão, como se estivesse recebendo um sermão de alguém. De repente voltou seu olhar para Rodolfo e ficou assustado, nunca havia visto alguém verde, era bizarro. Rodolfo, por outro lado, estava muito nervoso, esta seria a primeira vez em mais de 55 anos que ele falaria com alguém que não é de sua família.

Olá, eu tenho algumas coisas para falar…
Oh, meu Deus, você é verde, meu Deus!
Sim, eu sei…

De repente, o homem atacou Rodolfo com um pedaço de pau que havia no chão.

O que é isso? Por que ele está me batendo? O que eu fiz? Arg! Meu braço!
Pare, por favor! Gemeu o idoso.

Mas o homem continuava agredindo Rodolfo, até ele desmaiar. Então o homem lançou o pau contra o agredido e se afastou ligeiramente.

Algumas horas depois, Rodolfo acordou sentindo uma dor tão profunda que não podia pensar. Notou que seu braço esquerdo e suas pernas estavam quebrados. Por que um homem bateria em um idoso sem motivo? Ele precisava avisar sobre o sentido da vida para essas pessoas o mais rápido possível, aquilo era deplorável! De repente, Rodolfo ouvira algumas risadas. Era um grupo de três crianças brincando na chuva. Rodolfo observou-as.

Elas eram tão puras, não se pareciam com as que convivia na escola. Respirou fundo e chamou-as. Queria pedir ajuda, aquela dor terrível era insuportável. Não conseguia se mover por causa de suas fraturas.

Éca, que nojo, um velho verde!
Gritou uma criança.
Hahah, que coisa mais nojenta!
Retrucou sua amiga.
Me ajudem, por favor!
Agonizou Rodolfo, quase arrastando sua voz.

De repente, uma criança chega perto e pega um pé de Rodolfo e puxa para si. A criança começa a arrastar o velho pela rua. Rodolfo agonizou, a maldita criança estava puxando uma de suas pernas quebradas com tanta força que o velho desmaiou.

As crianças levaram o idoso até a lagoa onde Rodolfo estivera antes. E começaram a apedrejar o pobre senhor. Ele despertara com uma pedra jogada em suas costas. Rodolfo não podia acreditar no que estava presenciando. Crianças apedrejando um velho. Não era possível. Mais outra pedra, dessa vez na cabeça. Rodolfo desmaiara outra vez. Após a quarta pedra atirada, as crianças jogaram o corpo dentro da lagoa e fugiram.

O Único homem que descobriria o sentido da vida tinha sido assassinado por jovens que em um futuro não muito distante viriam a se suicidar por depressão. Dentre um dos motivos da depressão que sentiam era a irrefutável dúvida sobre o significado da vida.

Um momento antes de morrer, quando já se encontrava rumando ao Paraíso, Rodolfo pensou:

“Não entendo, passei a vida toda sendo julgado por algo que eu era por fora, isso me corroeu a ponto de ter ficado vazio por dentro; e quando finalmente me preencho, encontro um fim tão trágico, patético e doloroso… tenho pena da humanidade”

Programador, sonhando em ser escritor e falhando em ser humorista.