Sempre vivi na sujeira; mesmo sem querer, mesmo sem gostar, aguentando dia após dia um mundo caótico, apagado e senil. Torcendo a cada sol nascido para que o dia seguinte me trouxesse mais alegria, mais paz e mais saúde. Quase sempre minhas esperanças foram esmagadas pela realidade.

Sujeira que até então não me incomodava. Passou a incomodar.
Tiro os meus óculos pra me distrair em minha miopia. Na falta de foco eu me perco em pensamentos dispersos, devaneios e uma vaga sensação de não ter certeza nem, de que um dia estive certo.

Mas a sujeira continua ali…
Não há como varrê-la com dignidade para debaixo de um tapete. Foram cruéis comigo, não me deram tapetes. Muitas pessoas têm tapetes, elas vivem bem com isso, qual o meu problema? Jogar uma sujeirinha ali, sair sorrindo aqui e tudo acabar bem.

Ah, a malemolência em forma de falsidade, o sorriso falso que se tornará a sua expressão do cotidiano. Não dá… não consigo! Eu me importo demais com besteiras, afinal a casa tem que estar limpa sempre, sou uma dona de casa paranoica por limpeza, é.

Mas a sujeira continua ali…
Noticiando-me de sua presença através de todos os meus sentidos, me lembrando do quão falho eu sou e do quanto estou longe das minhas metas. Meu conformismo sobre o caos do meu apartamento me faz refletir. Minha falta de ideias me faz sucumbir a mim mesmo.

Ponho os óculos novamente, volto a enxergar o mundo como ele é. Cada vez mais eu vou ficando parecido com o meu chão. Dia após dia, uma poeirinha se instala na minha alma.
E eu me deprimo.

Programador, sonhando em ser escritor e falhando em ser humorista.