Os reles e gélidos olhares dos invisíveis manequins que jazem sob o réquiem chamado loja são os únicos que acalentam minha alma senil e me dão nem que por um instante o ar de sua presença abstrata.

Não lembro mais quando me tornei tão invisível, só sei que neste instante eu só queria voltar a ser notado, digno de atenção do mais simplório ser vivo. Forte! Não… acabado, é como me vejo quando olho no espelho, porém volto e me reconstruo a imagem daqueles que me observam e sentem que sou um deles.

Pobres humanos, mal aprenderam a sair de seu planeta, nem bem conhecem a si mesmos e já querem julgar seu semelhante. Eu sei que lá no fundo sou só eu, sem nenhum observador externo, sem nenhum julgador pra me dizer quem eu sou, pois isso sempre soube: EU SOU EU!

Quanto tempo vivemos tentando agradar a todos que nos cercam, tentando ser o bem mais estimável e notório, ser somente motivo de orgulho alheia. Por que essa ideia ridícula então? Se a maioria se comporta assim, deve ter um motivo muito bom.

O Medo!

O medo de que nos tosquiem com suas vorazes palavras por sermos diferentes, ou pior; que nos fulminem com o olhar de desprezo que seria somente desferido a uma besta, uma aberração, que abomina tudo aquilo que sente para que possa deixar de ser a si mesma, só para ser aquilo que querem que ela seja.

Eu quero ser somente eu. Quem não entende, ao menos deveria aceitar aqueles que os cercam, jamais julgar. A totalidade da realidade alheia não lhe pertence. Não pertence a ninguém, somente a própria pessoa que a vive. Dizer o contrário seria pedantismo. Ser humano, no meu dicionário vem com o seguinte verbete anexado: pedantismo. O julgamento baseado em um pedaço da realidade alheia?

A totalidade nunca é revelada antes de se ter uma completa opinião sobre alguém, por isso talvez, as pessoas sejam tão surpreendentes, pois esquecemos quem elas são e tomamos para nós que a pessoa é sempre aquilo que nós idealizamos e, não necessariamente, essa é a realidade, já que nossa percepção é falha e nós só temos cinco sentidos.

Ou seja, vivemos sob a ditadura dos nossos próprios cinco sentidos, o que faz com que sejamos incapazes de entender como os outros cinco sentidos dos sete bilhões de pessoas no mundo funcionam, sendo capazes assim de compreender apenas o nosso ângulo de visão sobre tudo aquilo que compreende a realidade.

Eu acho que eu tenho alguma razão no que escrevo, mas… quem daria credibilidade a um mendigo que sempre está teorizando sobre as coisas mais cabulosas possíveis.
Todos deveriam ser loucos.

Vivemos num mundo insano, pois somos sãos demais, se fôssemos um pouquinho mais loucos, talvez o mundo fosse mais são. Senti-me o chapeleiro maluco de “Alice no país das maravilhas”, instigando você leitor a se desprender dessa aura chamada realidade ao me ler.

Programador, sonhando em ser escritor e falhando em ser humorista.